PROJETO CALHA NORTE

Já publiquei, há bastante tempo, que cabe  ao Governo Federal voltar as suas vistas para a Amazônia, traçando uma política efetiva de ação para a área, sem receio de nela investir, dando força e ímpeto ao Projeto Calha Norte, com a dimensão que todos os brasileiros dele esperam, a fim de livrar a Amazônia dos olhos cobiçosos dos chamados  “donos do mundo”.

            O Projeto Calha Norte foi instituído para proteger extensa faixa de fronteira, com ações integradas nos aspectos demográficos e econômicos, tendo em vista tratar-se de uma área imensa, despovoada, relegada em grande parte ao abandono, sendo, portanto, susceptível de ocupação estrangeira.

            A idéia de desenvolvimento econômico nas faixas de fronteira, especialmente na Amazônia Legal, fundamenta-me na necessidade de ocupação gradual e sistemática dessas áreas, por militares e civis,  através de políticas do Governo calcadas em projetos de colonização dos vazios existentes na região, mediante o fomento de atividades agro-industriais facilitadas tanto pela concessão de crédito agrícola a taxas de juros menores do que aquelas habitualmente praticadas pelo mercado, quanto pela concessão de  incentivos e subsídios fiscais, autorizados pelo Congresso Nacional. .

            De passagem, cabe acentuar, que o patrimônio da Amazônia é gigantesco: um terço das florestas do planeta; uma bacia hidrográfica que, com seus recursos hídricos, representa um quinto da disponibilidade de água doce do mundo; biodiversidade de oito milhões de espécies; um continente geográfico que corresponde à vigésima parte da superfície terrestre; províncias minerais de nióbio, ferro, manganês, cobre, cassiterita, bauxita, caulim, ouro, gás, petróleo, etc.

            E, por falar em biodiversidade, o pesquisador Frederico Arruda, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade do Amazonas, com base em informação contida no periódico americano Washington Insight especializado em produtos naturais e destinados a empresários da indústria farmacêutica declarou que, pelo menos, 10 mil extratos vegetais continuam sendo contrabandeados da Amazônia para os EUA, Europa e Japão (a publicação é antiga).

            Admitiu o pesquisador que o volume contrabandeado poderá ser infinitamente maior e que a coleta vem sendo feita com a utilização do GPS, um instrumento de localização geográfica de alta precisão.

            Laboratórios de vários países do mundo estariam envolvidos, ainda, na importação ilegal de rãs e da planta conhecida como pedra-umi-caá, coletadas no Amazonas. O pesquisador garante que as rãs estão sendo levadas para o desenvolvimento de analgésicos e drogas para o tratamento de doenças neurovegetativas.

            A revitalização do Projeto Calha Norte, de acentuado cunho patriótico, é inadiável. Ele representa a salvação das áreas de fronteira, oferecendo apoio à Amazônia como um todo.

            Não devemos, jamais, esquecer a lição do sociólogo Gilberto Freyre:

            “Sendo a Amazônia uma região brasileira de interesse nacional, é preciso que seja, cada dia mais, preocupação brasileira. Objeto-sujeito de estudos, de pesquisas, de meditações de brasileiros”.

EU ERA FELIZ E NÃO SABIA

As estações de rádio animavam a vida de Manaus antes do advento da televisão.

        Havia uma grande disputa entre a Rádio Baré, a Rádio Difusora do Amazonas e a Rádio Rio Mar, todas procurando atrair o maior número de ouvintes possível.

        Perto do cais do porto de Manaus, a Rádio Baré ocupou um espaço considerável, atraindo multidões com shows aos domingos, realizados por artistas locais e atrações “vindas de fora”, como se dizia.

        Além do teatro armado para os shows, havia o parque de diversões com a Roda Gigante, a Montanha Russa, a Tenda dos Milagres, etc.

        Da montanha, os barcos eram atirados numa enorme piscina.

        Certo dia, eu estava tão embevecido, que caí na piscina. Como o Parque de Diversões era às margens do Rio Negro, correu a notícia de que eu havia caído no rio e morrido.

        Em casa, todo mundo chorava o meu infortúnio. Foi quando lá cheguei, todo molhado, e levei um tremendo safanão de minha mãe, tal o desespero em que se encontrava.

        Foi no Parque de Diversões, que eu assisti a um sanfoneiro esplêndido chamado Hélio Trigueiro, filho de tradicional família amazonense. Era meu colega de turma no antigo Ginásio Amazonense Pedro II.

        Fiquei sabendo das qualidades artísticas do Hélio, através das ondas sonoras da Rádio Baré. E fui vê-lo de perto, ficando extasiado com a magia com que dedilhava sua adorável sanfona.

        Hélio conquistou multidões com seu modo simples de se exibir em público. Era dotado de um excepcional talento musical.

        Quando o Hélio, já casado, resolveu residir no Rio de Janeiro, deixou um vazio imenso no mundo artístico de Manaus, que gostava de suas apresentações e vibrava com os acordes de sua sanfona.

        Tempos depois, a Rádio Difusora do Amazonas resolveu inaugurar a “Festa da Mocidade”, que ficava bem perto de onde eu morava. Tornei-me um aficionado do local festivo, assistindo as apresentações de consagrados artistas amazonenses e dos centros mais badalados do país. As festividades eram realizadas à noite. Somente aos domingos, ocorriam na parte vespertina.

        A “Festa da Mocidade” foi um sucesso. Projetou verdadeiros talentos no campo da música, do canto, da comédia, etc.

        Tempos bons aqueles.

Eu era feliz e não sabia!

AS JANELAS QUEBRADAS E O ROTARY

O autor do artigo, com o título acima, Gerson Gonçalves, Diretor 1993-95 do Rotary International, demonstrou, de maneira contundente, a sua preocupação com a ética, salientando que “distorções no comportamento dos rotarianos podem trazer muitos prejuízos à nossa organização”.

Ele citou uma importante experiência no campo da psicologia social, descrevendo o que chamou de “as janelas quebradas”: dois automóveis idênticos foram deixados abandonados, um deles, em uma região pobre e, o outro, numa região rica dos Estados Unidos. O carro da região pobre começou logo a ser desmontado, “canibalizado”; em pouco tempo, foi totalmente destruído. Já o carro deixado na região rica, continuou intacto. Bastou, neste último caso, o vidro do carro ser quebrado, para que fosse totalmente destruído, como ocorreu no bairro pobre, surgindo, assim, igualmente, uma ação delituosa.

Declarou Gerson Gonçalves, em suas observações: “Aquilo não se tratava de pobreza. Evidentemente, era algo que tinha a ver com a psicologia humana e as relações sociais. Um vidro quebrado em um carro abandonado transmite uma idéia de deterioração, de desinteresse e despreocupação que vai rompendo códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como que num vale tudo”.

O articulista assinala que a vitrine do Rotary na comunidade são seus associados, pela conduta exemplar de cada um. Assim, a distorção no comportamento de rotarianos, poderá trazer sérios prejuízos a qualquer clube rotário, começando um processo de deterioração, de maneira incontrolável.  E, acentua: “A Teoria das Janelas Quebradas nos ensina que, apesar da riqueza do local e das pessoas, não se pode permitir sequer um arranhão, quanto mais um vidro quebrado, pois será o início de um mal maior”.

O forte, portanto, em Rotary, é a ética, que deve nortear o procedimento de seus integrantes, sem desvios de conduta, para servir de incentivo a que outras pessoas ingressem em suas fileiras, visando sempre o bem comum e agindo com espírito de solidariedade e de amor ao próximo.

A DOR DO BOLSO

Sempre que se aproximam as Festividades de Fim de Ano e do Carnaval, as autoridades ficam muito preocupadas com a falta de educação do povo que urina nas ruas, nos canteiros externos dos prédios, nas árvores, etc; enfim, qualquer espaço serve para descarregar a bexiga e até os intestinos.

Além das necessidades fisiológicas, muitos jogam lixo em todos os lugares, como ocorre sempre no dia 31 de dezembro, por ocasião do Reveillon, ou na época do Carnaval, quando os garis retiram incontáveis toneladas de lixos espalhados pela cidade.

Mais simples seria a boa vontade da Prefeitura em multar o mijão ou qualquer outro infrator, em dinheiro vivo:  cem reais, duzentos reais… A dor do bolso seria ótima e representaria, bom exemplo para diminuir as infrações. Outra boa medida seria instalar mais banheiros químicos.

Porque não se copiam as cidades como Gramados, Sorocaba, Campos do Jordão…? Multas nos porcalhões.

O nosso problema, para sermos respeitados, está na educação do povo; na mudança de critérios para a valorização do brasileiro, que não pode se ufanar apenas do Futebol e do Carnaval.

Como disse, certa vez, Alexandre Garcia: o nosso problema não é de cidadania, é de selvageria; é de falta de educação mesmo, principalmente a doméstica.

HOMENAGEM AO 11 DE AGOSTO

Foi um acontecimento por demais marcante na história da Advocacia brasileira a criação dos Cursos Jurídicos (São Paulo e Olinda), em 11 de agosto de 1827.

Antes, os nossos jovens tinham que se deslocar à Europa e, principalmente, a Portugal, onde iam cursar a Universidade de Coimbra.  Acalentados com idéias novas, voltavam ao Brasil e aqui fincavam as raízes do Direito, que se iam expandindo, cada vez mais, com o passar dos tempos.

Após a instalação dos Cursos Jurídicos em nossa pátria, já não era mais necessário o aprendizado além-mar, pois aqui atuavam brilhantes profissionais do Direito na luta eterna contra os desmandos do poder e contra os desequilíbrios sociais.

Foram-se formando no Brasil turmas e mais turmas de notáveis cultores das letras jurídicas, que colaboraram e colaboram, decididamente, para o aprimoramento intelectual do nosso povo, sobressaindo-se dentre todos, a figura exponencial de Rui Barbosa, expressão maior da advocacia brasileira.  

Como se sabe, os advogados em nosso país vivem sob a égide da OAB. Tive a honra de presidir a Seccional do Amazonas de 01/02/69 a 31/01/71.

Há um fato curioso em minha vida: ainda como acadêmico de Direito e repórter, desloquei-me de Manaus a Boa Vista, capital do então Território Federal de Roraima, para cobrir a apresentação do Teatro Escola do Amazonas que ali encenaria a peça intitulada “Morte e Vida Severina”.

Fui convidado a defender, no Tribunal do Júri daquele Território, à época, um índio aculturado, que havia cometido um crime de morte, após embriagar-se durante uma pescaria com um amigo que o induzira à bebida, e que fora por ele assassinado. O índio, antes, segundo relato dos autos, nunca havia ingerido bebida alcoólica.

Consegui a absolvição do réu, levantando a tese da excludente criminal, com base no art. 24  do CP, “ipsis  verbis”: “É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou de força maior era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.

Isto me deu muito entusiasmo para continuar firme  do campo do Direito, dedicando-me ao ramo Cível, mas, hoje, os advogados estão sendo muito estigmatizados diante de acontecimentos lamentáveis que têm ocorrido, e pela proliferação de Faculdades em todo o país.

É preciso, no entanto, estabelecer a diferença entre os verdadeiros cultores do Direito, que têm enchido de orgulho o solo pátrio, dos aventureiros que conspurcam a classe.

O verdadeiro Advogado não se deixa intimidar com as nuvens negras do presente, fincando as raízes das árvores frondosas do futuro. Não se deixa abater nunca diante das vicissitudes da vida, nem usa de meios escusos para sobreviver.

Como já foi dito, alhures, toda profissão é nobre, se exercida com dignidade. Mas a de advogado é a mais nobre de todas, porque permite penetrar no sacrário inexplorado da alma humana.

Cultuemos, pois, o Onze de Agosto, Dia do Advogado.