Branca Amande Cavalcante
O que eu vou contar não é historinha…É a verdade que estamos vivendo no Brasil há vários anos.
Saía eu do consultório médico que fica em um shopping, quando eu vi um pobre homem, esquelético, todo sujo, com os cabelos desgrenhados, pés no chão, todo molhado (estava chovendo) e enfrentando muito frio; enfim, um ser humano infeliz, invisível aos olhos de muitas pessoas, por ser um morador de rua.
Com tristeza imensa estampada na face, olhava as pessoas e pedia que lhes comprassem um prato de comida. Os transeuntes passavam e desviavam o olhar. Então se dirigiu a mim e disse: senhora, estou com muita fome, eu, minha mulher e filhos.
Nunca, graças a Deus, senti a dor da fome. Dizem que é a pior das dores. Aí eu lhe disse: aguarde que eu vou providenciar umas quentinhas. Um cidadão que estava próximo me reprovou, dizendo que ele queria mesmo era dinheiro para “encher a cara de cachaça”. O mendigo respondeu: “Eu quero mesmo é comida. Estou com muita fome”.
Não aguentei e respondi ao desumano: “você já passou fome?”. Silêncio absoluto…
Comprei as quentinhas e as entreguei ao mendigo. Ele chorou e eu junto com ele.
Toda aquela miséria estampada na figura de um ser humano, igual a mim, a você e a todos nós, deixou-me constrangida, com o coração estraçalhado de viver num país tão rico e tão pobre ao mesmo tempo. Num país que podia ser um dos primeiros do mundo, mas que foi o último a libertar os escravos e que continua na escravidão de outra forma, pela falta de cultura de seu povo e pela ausência do verdadeiro e puro amor à pátria, para torná-la grande e pujante aos olhos do mundo.
Essa triste cena aqui relatada se repete todos os dias aos nossos olhos!