Para descansar dos muitos afazeres como Presidente da OAB/AM, pelos idos de 1970, resolvi realizar, com um amigo de peleja advocatícia, um passeio de barco, conduzido por um mestre em navegação pelos rios da Amazônia.
Percorrer os rios da região é um refrigério para a alma, uma verdadeira bênção divina, dada a beleza da paisagem que enche a vista e nos causa deslumbramento a todo instante.
A viagem já ia pelo meio tarde, e eu sentia uma fome danada, que me doía o estômago. Na pequena embarcação não havia nada para o almoço, mas o colega me disse que ficasse calmo, porque iríamos parar num recanto próximo onde encontraríamos o que comer.
O tempo foi passando, e a fome, é claro, aumentando. Eu já estava um pouco nervoso, quando encostamos a embarcação num remanso, com uma casa de caboclo bem por perto.
Saltamos da embarcação. Cumprimentamos os donos da casa com sua imensa filharada. Paramos para conversar e esperar a tão sonhada comida.
Na casa não havia nada, a não ser raízes e farinha. Fiquei desolado.
O dono da casa falou alto e bom som que dentro de mais ou menos uma hora o almoço seria servido. Pensei: esse cara está brincando; só se um milagre acontecer!
Aí, ocorreu o milagre. Num laguinho onde se encontrava a casa (palafita) ele jogou a rede e logo tivemos tucunarés e outros peixes, em abundância.
Que almoço maravilhoso. Que comidinha gostosa e cheirosa. Peixe fresco, apanhado na hora, é outra coisa.
Qual a origem do “milagre”? Muito simples: quando o rio enche, transborda, e a chamada terra firme, é inundada. Então, quando vem a vazante, formam-se os lagos, e os peixes ficam como que em cativeiro. É só jogar a rede, e o milagre acontece.
É o chamado milagre amazônico! A multiplicação dos pães ou, melhor dizendo, dos peixes.