A DOR DA SAUDADE

Corria o ano de 1994.

Ao comparecer à Loja União e Tranqüilidade, no Palácio Maçônico do Lavradio, no centro do Rio de Janeiro, lá encontrei como Orador da Loja  um irmão, de estatura acima da média, com bonita voz e acentuados  arroubos de oratória.

Ao terminar a sessão, fui apresentado ao Orador que, muito gentil, me convidou para ir ao bar-restaurante localizado perto da rua do Lavradio, a fim de ouvir músicas de um cancioneiro popular e degustar  um bem preparado  frango a passarinho.

O corpulento maçom, de gestos largos, era nada mais nada menos do que o estimado médico Moacir Elias, figura carismática de líder inconfundível. O tempo foi passando, e a amizade se firmando. Foi quando, então, por força do destino, fui morar com a família em Brasília.

Moacir vaticinou: “Cavalcante, você vai se arrepender da decisão. O seu lugar não é em Brasília, é aqui no Rio”.

Não deu outra: depois de quase quatro anos no Planalto Central, não agüentei ali ficar, e voltei com a família para o Rio de Janeiro. Moacir era um psicólogo, conhecia bem a alma humana.

Quando retornei à chamada Cidade Maravilhosa, encontrei o Moacir na condição de Venerável da Loja União e Tranqüilidade, dirigindo-a com grande entusiasmo, tanto assim que foi reeleito.

Moacir queria que eu o sucedesse na Veneraria. Fez tudo para me convencer a aceitar o elevado cargo maçônico, mas eu recusei, com muita habilidade, para não magoá-lo, dizendo-lhe que não poderia deixar a atividade de Conselheiro Federal do Grande Oriente do Brasil, que então exercia.

Moacir, mais tarde, resolveu disputar a Presidência da ADESG, entidade que já havia dirigido em outra oportunidade, com raro tirocínio. Intimou-me a ser o seu Segundo Secretário. Não tive como recusar a convocação.

O que marcou essa sua  segunda passagem na direção da ADESG  foi a  luta em defesa da ESG. Publicou flamejantes artigos no jornal Adesguiano, nos quais conclamava a todos ao bom combate, a fim  de preservar a Casa onde se estuda o destino do Brasil, na  lapidar frase do  grande Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco.

Moacir era um homem inteligente, de admirável sensibilidade e de uma extraordinária verve poética e cultura humanística. Como não poderia deixar de ser, encontrou, pela frente, panegiristas exaltados e detratores fanáticos e obstinados. Mas continuou a luta, por fim vitoriosa, em prol da ESG.

O que mais marcava no Moacir, porém, era o espírito de solidariedade que sempre foi uma constante em sua vida. Era o homem certo das horas incertas.

Emotivo, vibrava com a vitória dos seus amigos, sendo uma pessoa que sempre se doou. Acabou por se tornar um rotariano, que, em espírito  sempre foi, por seu exemplo de vida.

Ao morrer, Moacir deixou uma lacuna profunda junto aos seus amigos; junto à Maçonaria, da qual era um expoente de grande valor; e junto à  ADESG, que  sempre amou com rara devoção; e, também, junto ao Rotary Club.

A vida de Moacir, a sua luta, o seu entusiasmo pelas causas nobres, sempre o farão lembrado e relembrado por seus amigos e admiradores, que jamais esquecerão aquela formidável figura  humana, já em idade provecta, mas  com a alma de menino.

Como é profunda a dor da saudade!