BRANCA AMANDE CAVALCANTE
Carolline. Bonito nome para um ser irracional, mas muito inteligente. Nome de princesa.
Com efeito, ela era uma princesinha, muita faceira, cheia de beleza e charme. Encantava todo o condomínio onde eu morava, com a sua presença.
Quando eu chegava à varanda do apartamento, lá estava a Carol (como era carinhosamente chamada) olhando para mim de maneira suave e amiga. Fazia-lhe um aceno com a mão, e era o suficiente para a resposta alegre e agitada.
A princesinha, era uma Cocker Spaniel, digna de um príncipe da mesma estirpe. E o nosso cachorrinho, o Jedi (príncipe de Guerra nas Estrelas), era o seu namorado predileto. Era também um Cocker Spaniel.

Carol era mais expansiva. Latia bastante alegre, feliz, sacudindo a cauda. Era uma carioquinha bem animada. Já o Jedi, que viera de Brasília, adotava uma política diferente de aproximação: mais cautelosa, desconfiada, parecendo até que agia de uma maneira politicamente correta.
Da sacada o Jedi, quase que em hora marcada, latia faceiro para a Carol, sendo imediatamente correspondido. Eram latidos diferentes, próprios de namorados.
Tudo ia muito bem, até que da sacada do seu apartamento, a dona da Carol, chorando compulsivamente, comunicou-me a trágica morte da cadelinha, estraçalhada por um automóvel que trafegava em alta velocidade.
Choramos todos a morte da querida Carol. Jedi, passara a andar triste e desconfiado. Quando chegava à sacada, olhava, olhava, e não dava mais um latido sequer. Parece até que sabia que não mais encontraria a platônica namorada.
À noite, Jedi puxou com a boca a sua coberta, pois estava frio, e ficou do lado de dentro do quarto virado para a sacada onde sempre aparecia a Carolline. Chovia bastante e ele não pôde ficar do lado de fora.
Disse várias vezes ao Jedi que a Carolline morreu, e ele olhava como se estivesse entendendo. Parece até que queria dizer alguma coisa de tão solene que estava.
Carolline morreu e certamente estará numa dimensão muito boa, reservada aos irracionais, mais racionais que os seres humanos, pela lealdade, transparência de atitudes, sinceridade, e sobretudo amor, muito amor aos donos, aos amigos, sem traições, sem medo de amar e demonstrar que eles, irracionais, têm às vezes, mais sentimentos que nós, chamados de racionais.